terça-feira, 30 de setembro de 2008

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

ATARANTADO


Quando se meteram
Na minha vida
Tornei-me cético.


Quando se meteram
Nos meus sentimentos
Virei o ódio.


Enquanto todos dormiam,
Preferi a insônia
Dos papéis rabiscados.


Quando todos pediram
Que eu abrisse a janela,
Eu pulei.


















Ronne Grey (29/11/98)

domingo, 28 de setembro de 2008

Trevas



Garrafas de vinho
Pelo quarto ébrio,
Janelas abertas em sintonia
Com a brisa noturna.



Perambulo pela casa
E encontro a lua refletida
Na vidraça da cozinha.



Há meses não recebo
Visitas psicodélicas.
Embriago-me na solidão.








Ronne Grey

sábado, 27 de setembro de 2008

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

sábado, 20 de setembro de 2008

Olha Maria

Olha Maria Eu bem te queria
Fazer uma presa Da minha poesia
Mas hoje, Maria Pra minha surpresa
Para minha tristeza Precisas partir
Parte, Maria Que estás tão bonita
Que estás tão aflita Pra me abandonar
Sinto, Maria Que estás de visita
Teu corpo se agita Querendo dançar
Parte, Maria Que estás toda nua
Que a lua te chama Que estás tão mulher
Arde, Maria Na chama da lua
Maria cigana Maria maré
Parte cantando, Maria fugindo
Contra a ventania brincando, dormindo
Num colo de serra num campo vazio
Num leito de rio nos braços do mar
Vai, alegria que a vida, Maria
Não passa de um dia não vou te prender
Corre, Maria que a vida não espera
É uma primavera não podes perder
Anda, Maria Pois eu só teria
A minha agonia
Pra te oferecer





Chico Buarque
"Me pego pensando sobre nada e por isso presto mais atenção nos meus passos. Enquanto me desloco pacificamente em direção a um posto de gasolina. Não para abastecer minha geladeira de álcool, mas para saborear uma cerveja. Pois noites agradáveis só deveriam atrair coisas agradáveis. Então duas motos da polícia passam por mim, em marcha lenta, no exercício diário do ofício, traçando o caminho que eu estava pronto pra percorrer.

Viro à direita, entro no posto, avisto os guardiões da segurança pública. Estou disposto a olhar com menos julgamentos. Inclusive penso em cumprimentá-los. Já que uma noite boa assim não acontece qualquer dia. Além do trajeto em questão ser cotidiano de ambos. Aí percebo que um deles já estudou num lugar onde estudei na mesma época que eu. E se não me falhe a memória tinha uma banda de rock, tocava alguma coisa elétrica com cordas conectada num amplificador e aparentava gostar realmente disso.

Me pego pensando assim nos caminhos que a vida toma. Nas escolhas que nós fazemos e nas opções que temos em mãos, conseqüentes de nossas ações ou omissões. E se todos nós paramos mesmo pra pensar sobre isso, observar nossa trajetória aqui na vida e perceber a história que estamos criando. Por alguns segundos fico sem palavras. Abro a cerveja, olho as estrelas, dou um gole e volto pra casa".
Cuando éramos niños
los viejos tenían como treinta
un charco era un océano
la muerte lisa y llana
no existía.

luego cuando muchachos
los viejos eran gente de cuarenta
un estanque era un océano
la muerte solamente
una palabra

ya cuando nos casamos
los ancianos estaban en los cincuenta
un lago era un océano
la muerte era la muerte
de los otros.

ahora veteranos
ya le dimos alcance a la verdad
el océano es por fin el océano
pero la muerte empieza a ser
la nuestra.




Mario Benedetti

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

VIDA

A Paula Romero



Después de todo, todo ha sido nada,
a pesar de que un día lo fue todo.
Después de nada, o después de todo
supe que todo no era más que nada.

Grito «¡Todo!», y el eco dice «¡Nada!».
Grito «¡Nada!», y el eco dice «¡Todo!».
Ahora sé que la nada lo era todo,
y todo era ceniza de la nada.

No queda nada de lo que fue nada.
(Era ilusión lo que creía todo
y que, en definitiva, era la nada.)

Qué más da que la nada fuera nada
si más nada será, después de todo,
después de tanto todo para nada.


José Hierro
CON LAS PIEDRAS, CON EL VIENTO
hablo de mi reino.

Mi reino vivirá mientras
estén verdes mis recuerdos.
Cómo se pueden venir
nuestras murallas al suelo.
Cómo se puede no hablar
de todo aquello.
El viento no escucha. No
escuchan las piedras, pero
hay que hablar, comunicar,
con las piedras, con el viento.

Hay que no sentirse solo.
Compañía presta el eco.
El atormentado grita
su amargura en el desierto.
Hay que desendemoniarse,
liberarse de su peso.
Quien no responde, parece
que nos entiende,
como las piedras o el viento.

Se exprime así el alma. Así
se libra de su veneno.
Descansa, comunicando
con las piedras, con el viento.


José Hierro, 1950
NOVIEMBRE

Frente a la playa desierta,
oyendo caer la lluvia,
es como si hubiera vuelto
a llorar sobre mi tumba.

Baten las alas (las olas).
Arden sus llamas de espuma.
Aprisionan en sus dedos
la plata que las alumbra.

Todo está fuera del tiempo.
Pasan las nubes oscuras.
La arena, como una carne
sin tiempo, llora desnuda.

Los ojos ya no ven: sueñan.
No atinan con lo que buscan.
Las cosas están enfrente,
mas tienen el alma muda.

Se vertió el vino del ánfora
celeste de la aventura.
Ay alma, por qué volaste
con alas que no eran tuyas.


José Hierro, 1952


EL MAR EN LA LLANURA

¿Estarás siempre de mi parte,
adormecida entre mis brazos,
primaveral y musical,
afirmándote y afirmándonos?

¿A centenares de kilómetros,
a millares de encinas y álamos,
a millones de horas, de ríos,
de cumbres de piedra, de páramos?

Esta mañana te ha teñido
el recuerdo de vinos pálidos.
En las ramas de acacia, otoño
puso a dorar su seco manto.

Hojas crujían con la música
con que embistes acantilados.
La llanura fingió latidos,
temblores, fuegos oceánicos.

¿Tu compañía? ¿Tu nostalgia?
¿Tu esperanza?... ¿Siempre a mi lado
estarás, mar, primaveral,
afirmándote y afirmándonos?

Mar mía, ¿pase lo que pase,
aun después de lo que ha pasado?


José Hierro

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Vinho de Lágrimas



No meu cálice há lágrimas,
Estava nas nuvens
E hoje tenho asas partidas.


Neste vinho ébrio só vejo melancolia,
Pois, não há nada a comemorar.


Teus lábios se perderam na
Lembrança sofrida, pois a correnteza que
Te levou, me afoga em profunda agonia.


Todas as consolações serão inúteis,
Nada trará a poesia de volta para
Minha vida de ilusão.




Ronne Grey
Vinho de Lágrimas



No meu cálice há lágrimas,
Estava nas nuvens
E hoje tenho asas partidas.


Neste vinho ébrio só vejo melancolia,
Pois, não há nada a comemorar.


Teus lábios se perderam na
Lembrança sofrida, pois a correnteza que
Te levou, me afoga em profunda agonia.


Todas as consolações serão inúteis,
Nada trará a poesia de volta para
Minha vida de ilusão.




Ronne Grey
"Assim te conheci.
No Agosto quente
Junto ao paraíso.
Deste-me histórias,
Contaste conchas;
Ouvimos o silêncio
Ribombar no seco.
Choramos o riso,
Rimos do choro.
Gritamos aos deuses.
Nada mais.
Assim te conheci.
Era Outono
Fazia frio.
Abraçaste-me.
O calor espalhou-se
Pelos corpos excitados.
Sem recusa, sem palavra.
Enrolados na paisagem
Guardada na memória.
Nada mais.
Assim te conheci.
Novembro na fogueira.
Espalhavas sorrisos
Com a guitarra.
A preta pele aclamava
O charme da tua musa.
Improvisavas num só tom.
Melancólico.
Tive sorrisos, olhares,
Amor, momento.
Nada mais.
Assim te conheci.
Numa noite de Lisboa.
Selvagem, exótico, sensual.
Aura brilhante,
Ilusionismo astral.
Incandescente.
Historiador dos sentidos
Cultivador de sensações.
Cruzamento de ruas.
Nada mais.
Assim te conheci.
Para lá de uns anos.
Galanteavas emoções
Com poemas e prosas
Nunca declamadas antes.
Memória alucinante.
Pessoa aventureira
De onde saltam os infinitos
Espaço e tempo.
Palavras, frases,
Dentadas.
Nada mais.
Assim te conheci.
Naquela inauguração.
Expunhas os valores,
A tua intimidade
Sob os olhares reprovadores.
As mentes maléficas
E a snobeira artística.
Pintura, escultura,
Instalação.
Perduram
Não menos que a copulação.
Nada mais.
Assim me conheci.
Imóvel em frente ao espelho.
Dias afim, de noção ligeira.
Reais estradas de tempo na cara.
Sinais do que foi a vida no corpo.
Sozinha, desaproveitada.
Amor próprio enterrado no poço.
Flacidez, despelada.
Restam memórias,
Pensamentos.
Agora…
É tarde demais".

domingo, 7 de setembro de 2008

"Só a bailarina tem
uma pitangueira
que chora
flores e folhas
pra vê-la dançar
numa tarde
verde de agosto"


(Adélia Danielle)
REFLEXO


Fumegando meus sentimentos
Eu ficarei calmo e distante,
Minha cabeça equilibrada
Perguntou-me a razão da simetria.


Muitos não sabem o caminho
Da paz, nem do que minha amada
É capaz.


Enquanto essa tempestade não
Passa, ficarei nas nuvens,
Tranqüilo como meu mundo ébrio.


O homem deixa de ser
Artificial quando
Saboreia a natureza.





Ronne Grey
SEDE DE SONHAR



Quando não tenho o que comer,
A arte mata minha sede,
Quando hesito o meu viver,
Reflito balançando na rede.



Minha liberdade é poder sonhar
Vivendo a arte de viver, pois
Para viver é preciso sonhar
Sem medo de amar e sofrer.



A minha fome é sede de viver
Pela arte de sonhar, viverei
O que sonho sem duvidar.



Palavras de loucura destruindo
A insensatez, poesia que cura
Toda hipocrisia e estupidez.



Ronne Grey
Paraíba



Deixa eu ser o incenso
Que perfuma teu quarto.
Deixa eu ser o rio que corre
Sob teus pés.



Deixa eu ser teu arrebol
Nesse pôr-do-sol,
Mangue triste-calado.



Menina da Paraíba,
Um potiguar venera teu ser inefável.



Deixa eu ser a brisa que
Toca teu corpo celeste,
Deixa eu ser teu rio Potengi.






Ronne Grey

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

POEMA A BOCA FECHADA



Não direi:
Que o silêncio me sufoca- e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é doutra raça.



Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vasa de fundo em que há raízes tortas.



Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.



Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quanto me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.



JOSÉ SARAMAGO