sábado, 29 de novembro de 2008

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Vinagre



A febre não passa,
A dor é tamanha,
Solidão na enfermidade
Parece convite da morte.



Entre as telhas vejo risos,
Parecem gargalhar de minha
Desgraça mórbida.



Logo agora que saboreava
Belos seios entre cálices
De vinho, me vejo afogado
No vinagre de minha tragédia.




Ronne Grey

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Mangue triste





Abandonado em uma rede
Jaz uma solidão,
Lágrimas salgadas diluídas no vinho
De um pescador.





A insônia do mangue
Começa no tragar de
Um ébrio pôr-do-sol.





Partistes e eu apenas
Suspirei atarantado,
Lembrando do arrebol
Que loucamente fostes...









Ronne Grey
PANCADA


Ele precisa de uma pancada
Na cabeça, cada qual no meu lugar,
Mudo e surdo, mas vou mudar.


Tudo pode ser dito
Por aquele que não ouve,
Nada pode ser ouvido por aquele
Que não fala.


Formigando sem formiga,
Labutando por nada,
Desistindo de tudo por uma
Mera dilatação.


Não me perturbe com sua
Interpretação, isso já é uma
Tola interpretação.



Ronne Grey


Triste Rei



Havia sintonia nas
Palavras escritas no
Muro de tua cabeça atarantada.


Eram versos vagabundos
De um rei que sofria...



Nesse reinado
Tu eras a rainha
Que apareceria para me abandonar.







Ronne Grey
Bicho da Noite



Tem horas que só quero um cigarro,
Tem horas que procuro amigos
Para conversar perambulando
Pelas noites.


Tem horas que não quero nada,
Nem a morte nem a vida,
Nem o corte nem a ferida.


Tem horas que me basta um café,
Tem horas que não sei quem sou.


Tem horas que procuro o silêncio,
Tem horas que fujo para os gritos da insônia.




Ronne Grey
Dezembro Azul




Equilibro-me na melodia,
Degusto o som das árvores
Em um fio de vento,
Dezembro azul.



Encontro vinhos,
Olvido o amargo,
Vento de incenso,
Canto doce.


Degusto teu fruto
Em janeiro,
Deliro em março.



Em um rio de vento
Encontro tua pele branca,
Desnuda na louca melodia.



Ronne Grey
Dilacerações



Ó carnes que eu amei sangrentamente,
ó volúpias letais e dolorosas,
essências de Helio tropos e de rosas
de essência morna, tropical, dolente...


Carnes, virgens e tépidas do Oriente
do Sonho e das Estrelas fabulosas,
carnes acerbas e maravilhosas,
tentadoras do sol intensamente...


Passai, dilaceradas pelos zelos,
através dos profundos pesadelos
que me apunhalam de mortais horrores...


Passai, passai, desfeitas em tormentos,
em lágrimas, em prantos, em lamentos
em ais, em luto, em convulsões, em dores...





(Cruz e Sousa)

domingo, 9 de novembro de 2008

Música para teu canto ...



Acaso já percebeste
Que a dança quando flutua
Baila nos olhos dos seres
A imensidão da lua?

Talvez algo pareça
Aquilo que não aparece
E quanto mais a música cresça
As estrelas todas descem

Caso tu queiras ouvir
A canção primordialmente linda
Olha para dentro de ti
Escuta a corda que nunca cala
Vibrando um bem-te-vi
Dentro da tua alma




(Drika Duarte)
....

DEMITA SEU PATRÃO

patrões me deixam louco
fazem eu me sentir sugado
jogando meu tempo no lixo

um lixo tóxico, venenoso
poluído, antiecológico

carreira profissional?

patrões me deixam louco
são tantas exigências fúteis
esforços inúteis no afinal

e falam: vai, faz, mais
sem quê nem para quê
haja desnecessidade

patrões me deixam louco
às vezes puto da vida
porque sobram insanidades
na escassez de inteligência


(Tiago Mesquita)
MARIA


Vem, volta para mim,
Mata minha melancolia
Que hoje passará no teatro
Da vida louca.


O amor que eu sinto por ti
Transformou-se em abstinência,
À noite sou compelido a gritar seu
Nome e prantear como criança.


Se você ouvisse os gritos que,
Eu ouço a noite, acharia tudo
Que faço algo normal.


Ronne Grey
"Por trás de versos patéticos
Cada vez menos herméticos
Tiro sangue com as unhas
Deixo em carne viva
O pulso e a verborragia
Não cessam
Com o coração na boca
Reverencio o ócio".

(Vanessa Medeiros)
"E que nenhuma dor
me cale me cegue
me surte

Que eu veja sempre
o pôr-do-sol
e por ele volte
a me perder

Que cada amor
não viva em
vão

E eu possa escrever
pois também não sei
cantar".

(Adelia Danielle)

sábado, 8 de novembro de 2008

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Escuro da Loucura

Hoje não há versos
Na minha insônia,
Escrevo no escuro,
Escuro da loucura.


Não vejo tinta
Em minha pena,
Uma péssima idéia,
Escrever tolices.


Sentimento embaraçado
Nunca será arte,
Para os sensatos.




Ronne Grey

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Não posso fazer alguém me amar
(Trecho musical do espetáculo infantil “A porta mágica”, ainda inédito e com previsão de ser encenado em 2009)

Cefas Carvalho/Cláudia Magalhães

Posso fazer chover/Fazer a chuva desabar
Posso fazer os peixes/Saltarem pra fora do mar
Posso fazer a lua/Beijar o sol em pleno dia
Posso transformar/ Um cachorro em cotovia

Mas, para minha tristeza/Para meu azar
Não posso fazer/Alguém me amar

Posso fazer estrelas/caírem do firmamento
Posso fazer da água/O mais suave ungüento
Posso me transformar/Numa brisa da manhã
Posso com uma mágica/envenenar uma maçã

Mas, para minha tristeza/Para meu azar
Não posso fazer/Alguém me amar

Posso lançar olhares/ criar sorrisos
Posso mudar de cabelo/Forjar avisos
Posso me exibir/ Chorar, me descabelar
Mas nada faz/O meu amor me olhar

Mas, que tristeza/Que azar
Não poder fazer alguém amar...
ATARANTADO


Quando se meteram
Na minha vida
Tornei-me cético.


Quando se meteram
Nos meus sentimentos
Virei o ódio.


Enquanto todos dormiam,
Preferi a insônia
Dos papéis rabiscados.


Quando todos pediram
Que eu abrisse a janela,
Eu pulei.


















Ronne Grey (29/11/02)
Pétalas Sangradas



São tantos calos
Que parece insensível,
Lágrimas secas e cortantes.



Um silêncio sofrido
Que grita em desespero
Abandonado...



Entre concretos
As pétalas sangram
Versos...



Ronne Grey

sábado, 1 de novembro de 2008

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Obras imaginárias





Por quê realizar uma obra se é melhor e mais prazeroso apenas imaginá-la? Lembrei desta pergunta feita a si mesmo pelo pintor Giotto, no filme Decameron, do mestre italiano Pasolini. Giotto, vivido pelo próprio Pasolini, encerra o filme com essa frase de efeito, visualizando mentalmente a obra que não pintara. Por muitas vezes me deleitei apenas ao imaginar um conto, uma crônica, um romance, sem jamais ter escrito deles uma mísera linha. Ah, a obra literária existente apenas dentro de mim, é imensa, quase uma Biblioteca de Babel. E por citar Borges, no conto O milagre secreto (do livro Ficções), o mestre argentino criou um personagem, Jaromir, que, diante do pelotão de fuzilamento e com a bala em sua direção, percebe que dispõe de um milésimo de segundo para terminar, em sua mente, o romance que começara a escrever. Mentalmente, constrói frases e parágrafos, corrige orações, inventa personagens, retifica a ortografia, até que termina de, digamos, imaginar, seu livro, colocando-lhe o ponto final. A bala chega ao seu destino e Jaromir morre. Acredito até que imaginar um texto é melhor que muito do que colocamos no papel, que não corresponde ao que sentimentos ou que não passam de palavras, nada mais que palavras. Qualquer dia desses vou fazer uma lista das minhas obras imaginadas e jamais escritas. Bem, se eu escrever o nome delas em uma folha de papel, já seria um passo para que elas ganhem vida. Pensando bem, vou deixar as minhas obras imaginárias em um recôndito da minha mente...




Cefas Carvalho

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

domingo, 12 de outubro de 2008

23 de Janeiro



Acordava cantando,
Dormia com as janelas abertas,
À noite sua alma
Perambulava pela floresta.



Noites fumegantes
Onde sentava nos barcos
Preguiçosos do mangue.



O som do mar lhe seduzia,
Semelhante um canto de flauta
Que embriaga os poetas.



Ele sempre dizia:
Ingratidão dormir,
Enquanto se faz
Bela lua cheia.








Ronne Grey

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

POEMA CON LA TONADA ÚLTIMA

¿Que adónde voy con esas caras tristes
y un borbotón de venas heridas en mi frente?

Voy a despedir rosas al mar,
a deshacerme en olas más altas que los pájaros,
a quitarme caminos que ya andaban en mi corazón como raíces...

Voy a perder estrellas,
y rocíos,
y riachuelitos breves donde amé la agonía que arruinó
mis montañas
y un rumor de palomas
especial,
y palabras...

Voy a quedarme sola,
sin canciones, ni piel,
como un túnel por dentro, donde el mismo silencio
se enloquece y se mata.




Julia de Burgos

domingo, 5 de outubro de 2008

•" Segure navilouca •
'Sou somente uma alma em tentação .
Em rota de colisão .
Deslocada, estranha e aqui presente.' ♫
[ah! esse refrãozinho é tão meu!]

Quanto a ir ou vir, ficar ou partir, casar ou comprar a bendita bicicleta, aconselho:
'Pensa não, deixa assim, que a vida pensa...' [sabio Lenine]

A vida por si só trata de direcionar dúvidas à caminhos matemáticos, exatos, sem desvios ou saídas; e normalmente são esses os melhores caminhos a se seguir.
Lutei tempos contra a força da minha vida, me frustrei certas vezes para hoje saber que intuição é algo que deve ser levado a sério e que meu destino cuida de mim como ninguém.
Como eu já havia dito; TUDO o que se sucede nessa minha vida é absolutamente inevitável."

sábado, 4 de outubro de 2008

sexta-feira, 3 de outubro de 2008


"Sim, gostava de escrever! Amanhã escreverei e direi tudo o que não pude dizer hoje!

Sempre que entras por aquela porta, eu tremo...tremo de temor, tremo por ti, tremo por nós. Queria poder encontrar-te novamente e mentir, mentir como sempre mentimos por sermos daltónicos no sentimento, na razão e na emoção, porque o que foi sentido já não faz sentido...a forma é irrelevante... não consigo fechar as gavetas... estão cheias, estão cheias de nós! Foi a ti e só por mim que em momentos de cegueira te procurei....
Desculpa... mas como a vida acontece e os caminhos se cruzam, abracei um tumulto e segredei-lhe ao ouvido
"


"Tenho uma fome, tenho amor, estou pronto para a guerra. Que os fogos comecem: estou na arena. Mas, pra isso, tenho que mendigar um almoço na casa de um amigo & tentar gerir meus dias com apenas o que me foi legado: meu corpo, minha inteligência, minha poesia maldita. (...)Está na hora de polir as garras, limpar o sangue & beijar o cio estrelado da noite. Tenho cópulas extremas em minhas veias, animais gritando, dançarinos pegando fogo num ritual noturno, perfume. Novos vinhos & novas revoluções. Uma magia pronta para um crime perfeito. Um grito, animais extintos, maldade, sonhos. Tinha que espatifar isso num congresso de corpos numa casa em ruínas, ou em duas. Tive que visitar minhas antigas cópulas para banhar as novas em ouros escondidos nos tesouros de matos verdes com vestígios de merda & pequenas pulgas. Tive que deitar num pasto de fezes & olhar o céu, enquanto era estimulado pela boca de uma amante pronta para a entrega definitiva. Sua boca percorrendo os pergaminhos luminosos de meu corpo quente, soprando como um verão doce. Nossas bocas dançando em movimentos lentos sob a luz frágil da lua, nosso poste natural, nossa canção de noite. I’m singing in the rain... correndo, pulando sobre destroços nas ladeiras, buscando um casulo de rochas antigas para nossa nudez mágica, nosso grito sonoro de sedução entre as flores".
"Essas putas consumistas do cansaço diário. Aquelas que não deixam cerrar os olhos. As que esporram adrenalina, essa vitamina que nos faz mexer. As cabras fascistas que tocam no céu no nosso nervo mais sensível e mantém a luz acesa. Tudo fica claro quando nos implode a sensação de estenuamento seguido do orgasmo múltiplo que nos mantém a cabeça a rodar durante toda a noite. Aquelas idiotas capitalistas que nos roubam o brio sobre o breu. Nada mais que tirar o nosso rosto descansado e espetar um par de olheiras sob os olhos e uma resma de rugas aqui e ali. Quarto escuro, cama feita, almofada minha. Tudo para um perfeito sonho. Tu a meu lado com a sonolenta respiração ofegante. Abraço-te na esperança de vencer aquelas incontornáveis putas. Nada. Continuo deitada com os sentidos afinados no que não se passa. O sol nasce, o orvalho seca, há vida de novo. Assim encaro mais um dia".

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

terça-feira, 30 de setembro de 2008

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

ATARANTADO


Quando se meteram
Na minha vida
Tornei-me cético.


Quando se meteram
Nos meus sentimentos
Virei o ódio.


Enquanto todos dormiam,
Preferi a insônia
Dos papéis rabiscados.


Quando todos pediram
Que eu abrisse a janela,
Eu pulei.


















Ronne Grey (29/11/98)

domingo, 28 de setembro de 2008

Trevas



Garrafas de vinho
Pelo quarto ébrio,
Janelas abertas em sintonia
Com a brisa noturna.



Perambulo pela casa
E encontro a lua refletida
Na vidraça da cozinha.



Há meses não recebo
Visitas psicodélicas.
Embriago-me na solidão.








Ronne Grey

sábado, 27 de setembro de 2008

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

sábado, 20 de setembro de 2008

Olha Maria

Olha Maria Eu bem te queria
Fazer uma presa Da minha poesia
Mas hoje, Maria Pra minha surpresa
Para minha tristeza Precisas partir
Parte, Maria Que estás tão bonita
Que estás tão aflita Pra me abandonar
Sinto, Maria Que estás de visita
Teu corpo se agita Querendo dançar
Parte, Maria Que estás toda nua
Que a lua te chama Que estás tão mulher
Arde, Maria Na chama da lua
Maria cigana Maria maré
Parte cantando, Maria fugindo
Contra a ventania brincando, dormindo
Num colo de serra num campo vazio
Num leito de rio nos braços do mar
Vai, alegria que a vida, Maria
Não passa de um dia não vou te prender
Corre, Maria que a vida não espera
É uma primavera não podes perder
Anda, Maria Pois eu só teria
A minha agonia
Pra te oferecer





Chico Buarque
"Me pego pensando sobre nada e por isso presto mais atenção nos meus passos. Enquanto me desloco pacificamente em direção a um posto de gasolina. Não para abastecer minha geladeira de álcool, mas para saborear uma cerveja. Pois noites agradáveis só deveriam atrair coisas agradáveis. Então duas motos da polícia passam por mim, em marcha lenta, no exercício diário do ofício, traçando o caminho que eu estava pronto pra percorrer.

Viro à direita, entro no posto, avisto os guardiões da segurança pública. Estou disposto a olhar com menos julgamentos. Inclusive penso em cumprimentá-los. Já que uma noite boa assim não acontece qualquer dia. Além do trajeto em questão ser cotidiano de ambos. Aí percebo que um deles já estudou num lugar onde estudei na mesma época que eu. E se não me falhe a memória tinha uma banda de rock, tocava alguma coisa elétrica com cordas conectada num amplificador e aparentava gostar realmente disso.

Me pego pensando assim nos caminhos que a vida toma. Nas escolhas que nós fazemos e nas opções que temos em mãos, conseqüentes de nossas ações ou omissões. E se todos nós paramos mesmo pra pensar sobre isso, observar nossa trajetória aqui na vida e perceber a história que estamos criando. Por alguns segundos fico sem palavras. Abro a cerveja, olho as estrelas, dou um gole e volto pra casa".
Cuando éramos niños
los viejos tenían como treinta
un charco era un océano
la muerte lisa y llana
no existía.

luego cuando muchachos
los viejos eran gente de cuarenta
un estanque era un océano
la muerte solamente
una palabra

ya cuando nos casamos
los ancianos estaban en los cincuenta
un lago era un océano
la muerte era la muerte
de los otros.

ahora veteranos
ya le dimos alcance a la verdad
el océano es por fin el océano
pero la muerte empieza a ser
la nuestra.




Mario Benedetti

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

VIDA

A Paula Romero



Después de todo, todo ha sido nada,
a pesar de que un día lo fue todo.
Después de nada, o después de todo
supe que todo no era más que nada.

Grito «¡Todo!», y el eco dice «¡Nada!».
Grito «¡Nada!», y el eco dice «¡Todo!».
Ahora sé que la nada lo era todo,
y todo era ceniza de la nada.

No queda nada de lo que fue nada.
(Era ilusión lo que creía todo
y que, en definitiva, era la nada.)

Qué más da que la nada fuera nada
si más nada será, después de todo,
después de tanto todo para nada.


José Hierro
CON LAS PIEDRAS, CON EL VIENTO
hablo de mi reino.

Mi reino vivirá mientras
estén verdes mis recuerdos.
Cómo se pueden venir
nuestras murallas al suelo.
Cómo se puede no hablar
de todo aquello.
El viento no escucha. No
escuchan las piedras, pero
hay que hablar, comunicar,
con las piedras, con el viento.

Hay que no sentirse solo.
Compañía presta el eco.
El atormentado grita
su amargura en el desierto.
Hay que desendemoniarse,
liberarse de su peso.
Quien no responde, parece
que nos entiende,
como las piedras o el viento.

Se exprime así el alma. Así
se libra de su veneno.
Descansa, comunicando
con las piedras, con el viento.


José Hierro, 1950
NOVIEMBRE

Frente a la playa desierta,
oyendo caer la lluvia,
es como si hubiera vuelto
a llorar sobre mi tumba.

Baten las alas (las olas).
Arden sus llamas de espuma.
Aprisionan en sus dedos
la plata que las alumbra.

Todo está fuera del tiempo.
Pasan las nubes oscuras.
La arena, como una carne
sin tiempo, llora desnuda.

Los ojos ya no ven: sueñan.
No atinan con lo que buscan.
Las cosas están enfrente,
mas tienen el alma muda.

Se vertió el vino del ánfora
celeste de la aventura.
Ay alma, por qué volaste
con alas que no eran tuyas.


José Hierro, 1952


EL MAR EN LA LLANURA

¿Estarás siempre de mi parte,
adormecida entre mis brazos,
primaveral y musical,
afirmándote y afirmándonos?

¿A centenares de kilómetros,
a millares de encinas y álamos,
a millones de horas, de ríos,
de cumbres de piedra, de páramos?

Esta mañana te ha teñido
el recuerdo de vinos pálidos.
En las ramas de acacia, otoño
puso a dorar su seco manto.

Hojas crujían con la música
con que embistes acantilados.
La llanura fingió latidos,
temblores, fuegos oceánicos.

¿Tu compañía? ¿Tu nostalgia?
¿Tu esperanza?... ¿Siempre a mi lado
estarás, mar, primaveral,
afirmándote y afirmándonos?

Mar mía, ¿pase lo que pase,
aun después de lo que ha pasado?


José Hierro

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Vinho de Lágrimas



No meu cálice há lágrimas,
Estava nas nuvens
E hoje tenho asas partidas.


Neste vinho ébrio só vejo melancolia,
Pois, não há nada a comemorar.


Teus lábios se perderam na
Lembrança sofrida, pois a correnteza que
Te levou, me afoga em profunda agonia.


Todas as consolações serão inúteis,
Nada trará a poesia de volta para
Minha vida de ilusão.




Ronne Grey
Vinho de Lágrimas



No meu cálice há lágrimas,
Estava nas nuvens
E hoje tenho asas partidas.


Neste vinho ébrio só vejo melancolia,
Pois, não há nada a comemorar.


Teus lábios se perderam na
Lembrança sofrida, pois a correnteza que
Te levou, me afoga em profunda agonia.


Todas as consolações serão inúteis,
Nada trará a poesia de volta para
Minha vida de ilusão.




Ronne Grey
"Assim te conheci.
No Agosto quente
Junto ao paraíso.
Deste-me histórias,
Contaste conchas;
Ouvimos o silêncio
Ribombar no seco.
Choramos o riso,
Rimos do choro.
Gritamos aos deuses.
Nada mais.
Assim te conheci.
Era Outono
Fazia frio.
Abraçaste-me.
O calor espalhou-se
Pelos corpos excitados.
Sem recusa, sem palavra.
Enrolados na paisagem
Guardada na memória.
Nada mais.
Assim te conheci.
Novembro na fogueira.
Espalhavas sorrisos
Com a guitarra.
A preta pele aclamava
O charme da tua musa.
Improvisavas num só tom.
Melancólico.
Tive sorrisos, olhares,
Amor, momento.
Nada mais.
Assim te conheci.
Numa noite de Lisboa.
Selvagem, exótico, sensual.
Aura brilhante,
Ilusionismo astral.
Incandescente.
Historiador dos sentidos
Cultivador de sensações.
Cruzamento de ruas.
Nada mais.
Assim te conheci.
Para lá de uns anos.
Galanteavas emoções
Com poemas e prosas
Nunca declamadas antes.
Memória alucinante.
Pessoa aventureira
De onde saltam os infinitos
Espaço e tempo.
Palavras, frases,
Dentadas.
Nada mais.
Assim te conheci.
Naquela inauguração.
Expunhas os valores,
A tua intimidade
Sob os olhares reprovadores.
As mentes maléficas
E a snobeira artística.
Pintura, escultura,
Instalação.
Perduram
Não menos que a copulação.
Nada mais.
Assim me conheci.
Imóvel em frente ao espelho.
Dias afim, de noção ligeira.
Reais estradas de tempo na cara.
Sinais do que foi a vida no corpo.
Sozinha, desaproveitada.
Amor próprio enterrado no poço.
Flacidez, despelada.
Restam memórias,
Pensamentos.
Agora…
É tarde demais".

domingo, 7 de setembro de 2008

"Só a bailarina tem
uma pitangueira
que chora
flores e folhas
pra vê-la dançar
numa tarde
verde de agosto"


(Adélia Danielle)
REFLEXO


Fumegando meus sentimentos
Eu ficarei calmo e distante,
Minha cabeça equilibrada
Perguntou-me a razão da simetria.


Muitos não sabem o caminho
Da paz, nem do que minha amada
É capaz.


Enquanto essa tempestade não
Passa, ficarei nas nuvens,
Tranqüilo como meu mundo ébrio.


O homem deixa de ser
Artificial quando
Saboreia a natureza.





Ronne Grey
SEDE DE SONHAR



Quando não tenho o que comer,
A arte mata minha sede,
Quando hesito o meu viver,
Reflito balançando na rede.



Minha liberdade é poder sonhar
Vivendo a arte de viver, pois
Para viver é preciso sonhar
Sem medo de amar e sofrer.



A minha fome é sede de viver
Pela arte de sonhar, viverei
O que sonho sem duvidar.



Palavras de loucura destruindo
A insensatez, poesia que cura
Toda hipocrisia e estupidez.



Ronne Grey
Paraíba



Deixa eu ser o incenso
Que perfuma teu quarto.
Deixa eu ser o rio que corre
Sob teus pés.



Deixa eu ser teu arrebol
Nesse pôr-do-sol,
Mangue triste-calado.



Menina da Paraíba,
Um potiguar venera teu ser inefável.



Deixa eu ser a brisa que
Toca teu corpo celeste,
Deixa eu ser teu rio Potengi.






Ronne Grey

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

POEMA A BOCA FECHADA



Não direi:
Que o silêncio me sufoca- e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é doutra raça.



Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vasa de fundo em que há raízes tortas.



Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.



Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quanto me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.



JOSÉ SARAMAGO

domingo, 31 de agosto de 2008

MINHA IRONIA


Cortei os pulsos da mentira,
Enforquei com tuas cordas a ilusão
Pulei a janela que você omitira,
Assim como a porta da percepção.


Afoguei nossos planos singelos,
Nossas promessas infantis,
Mas ainda luto contra uma dor
Chamada melancolia.


Disparos disparados
Pela rua da pretensão,
Corpos saqueados e dilacerados
Pelo subconsciente da invasão.



Ronne Grey
Lágrimas no Espelho

Não sei o que sinto
Nem o que vejo,
Vejo o que sei e
Sinto o que vejo.


Contradição perseguidora,
Sonhadora percepção,
Labirinto da visão inspiradora.


Loucura para entender,
Entender a loucura,
Sorrir para chorar,
Chorar para chover.


Confundindo a confusão confusa,
Sentindo a visão intrusa.


Vivendo sem saber,
Sabendo sem viver,
Escrevendo para morrer.




Ronne Grey
Infinita Melodia

Posso transformar
A natureza em poesia,
E faço da poesia algo natural.


Doravante não haverá limites,
Pois a sobriedade jaz em minha face
Com lágrimas sinceras e sorrisos loucos.


Olhe nos meus olhos e veja
Um mundo que é uma infinita melodia,
Ouça a evaporação do incenso.


A vida é uma arte,
Pois a morte não é oposta à vida,
Mas sim uma transição de uma
Melodia para outra.




Ronne Grey

domingo, 24 de agosto de 2008

Bicho da Noite



Tem horas que só quero um cigarro,
Tem horas que procuro amigos
Para conversar perambulando
Pelas noites.


Tem horas que não quero nada,
Nem a morte nem a vida,
Nem o corte nem a ferida.


Tem horas que me basta um café,
Tem horas que não sei quem sou.


Tem horas que procuro o silêncio,
Tem horas que fujo para os gritos da insônia.




Ronne Grey

sábado, 23 de agosto de 2008

Brisa da Aurora

Canta brisa da aurora,
Vem ser melodia nessa solidão,
Pois minha alma chora.


Aquela flor não é minha,
Pranto disfarçado de orvalho,
Por uma dor minha.


Não chores triste alma,
Pois tuas lágrimas perturbam
O silêncio dessa melodia.


Canta brisa da aurora,
Vem ser melodia nessa solidão,
Pois minha alma chora, pensando
Que seja poesia essa dor
Maquiada de paixão.




Ronne Grey
Vagabunda Poesia




Poesia do meu hospício,
Diploma no café da insônia,
Todos dormem, eu rabisco.


Implico, repito e reflito,
Loucura não é novidade,
Mas sim um poeta aflito,
Todos são cúmplices
Dessa maldade.


Gritaria intensa, dor imensa,
Desabafo que pensa, parecido
Melodia, mas que não passa de
Uma vagabunda poesia.


Prostituta sem palco e platéia,
Na boca de todos, mas que foi
Maquiada na cama, sem fama,
E na solidão.




Ronne Grey
VASO VAZIO


Sou um vaso vazio
Que não tem flor,
Vivo cheio e pesado do
Vazio que encontrei.


Talento não existe,
Nada existe, foi, será,
Não sabemos,
As coisas acontecem.


Rimar sem viver é algo
Doloroso que mata compelindo
Suicídio à poesia.


Por mais que pareça viva,
Está morta por aqueles
Que a tornaram suicida.










Ronne Grey
Canto da Dor



Não vos preocupeis
Com o meu pranto,
Não vos indigneis
Com o meu canto.



Meu pranto é de tristeza,
Meu canto é de lamentação.



Se meu silêncio vos incomoda,
Nada valerá meus versos.




Ronne Grey
Antítese



Esdrúxulo e sensato,
Fora da norma,
Fora das regras,
Fora da lei.



Fugir do óbvio,
Fugir do tédio,
Fora de casa,
Fora de órbita.



Pacífico e rebelde
Homofobia,
Cana-bicicleta para Xenofobia.









Ronne Grey

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Acorde Final



Só há uma ida
Sem despedida,
Sua última remada.


Último olhar,
Único abraço,
Ontem ouvia suas risadas...


Pranto, revolta, loucura,
Verso, orgasmo, passos,
Pedido negado, último pedido,
Conselho, mentira, verdade.


Dúvida e certeza só na morte,
Antes e depois da ilusão da vida.




Ronne Grey
Texto para Orelha


Existe a poesia bem comportada, feita com régua e compasso para agradar moçoilas românticas e senhorinhas bem intencionadas. Talvez seja a poesia dos salões, a poesia tecnocrata, enfurnada em regras, saraus igualmente bem comportados e auto-limitações. Mas, felizmente existe, existe a poesia que explode no peito como um sopro, que grita, regurgita, que esquece as normas de etiqueta e se faz ouvir na marra. É esta poesia e a que explode da garganta e da pena de Ronne Grey, jovem poeta potiguar-cosmopolita que já é conhecido do universo cultural papa-jerimum, tanto pelos seus versos como pela sua militância cultural. Sim, o poeta que escreve obras como "Ejaculação", "Elite Lixo" e "mangue triste", também dá a cara à tapa em saraus e encontros poéticos, fazendo soar sua necessidade/vontade de transgressão, de falar alto, de que sua poesia ganhe as ruas e ressoa nos tímpanos dos incautos. O leitor atento vai perceber que o universo poético de Ronne Grey é forjado por termos fortes (sangue, sujeira, neurose, necrotério), mas que o lirismo sempre se faz presente. Bem vindo, então o leitor a um mundo onde a poesia vive, ferve, arde, quer se fazer sólida; onde a poesia, como afirma o próprio poeta em uma de suas poesias, parece "um diálogo interrompido, um pranto engolido". Que a realidade produza mais poetas com a sede de viver e de poetar como Ronne Grey. Natal e o mundo agradecerão.
Poeta marginal concretizando seu terceiro livro independente, autor dos livros: Morte Matada e Vagabunda Poesia onde externa seu caos em forma de versos ousados e líricos.
Verbo Solto é seu terceiro grito de tantos outros que virão.





Cefas Carvalho

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Incenso Fosse Música


isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além
A MODA É BREGA


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novela das oito
jornal nacional
veja caras contigo
coluna social

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big brother rayban

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Nietzscheniana


"Todos os dias adormeço possibilidades e acordo realidade.
Todos os dias sinto o peso do corpo desanimado.
Sinto o sono entorpecente e visciante.

Sinto a fome da ansiedade.

Todos os dias procuro respostas e encontro perguntas.
Todos os dias sinto dor; insônia; saudade.
Todos os dias sinto tristeza.


A cada amanhecer (lânguida) nasço e morro".




(Adélia Danielli)

sábado, 16 de agosto de 2008

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

MORENA EFLUVIOSA


Teu sorriso é belo como a noite,
O brilho de teus olhos as estrelas invejam,
Pois encontrei em teus olhos o que eu tanto procurava.


Morena tua beleza é natural,
Pois entre as flores não encontrei
Uma beleza igual.


O teu ser inspira meus versos,
Enlouquece minha alma desvairada,
Pois só de longe és admirada.


Estes versos te veneram,
Mas perdoai a audácia desse nobre poeta.





Ronne Grey
Partir ou Não




Grita por mim quando nossa liberdade
De novo nos separe.
Contém a minha fuga.
Dá-me esperanças.



Guarda-me dentro da cidade
Que protege teus dias desiguais.
Dentro do mar que resguarda teu ócio.
Dentro do céu vigilante que nunca esqueces.



Bebamos em tua taça
Esse vinho de luz que nos defende do exílio.



Que caminhe comigo pela vida fria
Para sempre um silêncio de sol.









Poeta argentina
(Elizabeth Azcona Cranwell)
Arrebol



Anseio pela tua alma,
Tenho sede por teus lábios,
Venero as palavras dos teus olhos.



Tu és meu verso perfeito,
És meu cálice ébrio.



Neste mangue triste,
Triste pelas lágrimas
De um poeta e pela
Morte de um sol.



Tenha calma minha alma,
Pois teu pranto é singelo.










Ronne Grey
A ausente

Amiga, infinitamente amiga
Em algum lugar teu coração bate por mim
Em algum lugar teus olhos se fecham à idéia dos meus.
Em algum lugar tuas mãos se crispam, teus seios
Se enchem de leite, tu desfaleces e caminhas
Como que cega ao meu encontro...
Amiga, última doçura
A tranqüilidade suavizou a minha pele
E os meus cabelos. Só meu ventre
Te espera, cheio de raízes e de sombras.
Vem, amiga
Minha nudez é absoluta
Meus olhos são espelhos para o teu desejo
E meu peito é tábua de suplícios
Vem. Meus músculos estão doces para os teus dentes
E áspera é minha barba. Vem mergulhar em mim
Como no mar, vem nadar em mim como no mar
Vem te afogar em mim, amiga minha
Em mim como no mar...





Vinicius de Morais

A carta que não foi mandada



Paris, outono de 73
Estou no nosso bar mais uma vez
E escrevo pra dizer
Que é a mesma taça e a mesma luz
Brilhando no champanhe em vários tons azuis
No espelho em frente eu sou mais um freguês
Um homem que já foi feliz, talvez
E vejo que em seu rosto correm lágrimas de dor
Saudades, certamente, de algum grande amor

Mas ao vê-lo assim tão triste e só
Sou eu que estou chorando
Lágrimas iguais
E, a vida é assim, o tempo passa
E fica relembrando
Canções do amor demais
Sim, será mais um, mais um qualquer
Que vem de vez em quando
E olha para trás
É, existe sempre uma mulher
Pra se ficar pensando
Nem sei... nem lembro mais




Vinicius de Morais
enchantagem


de tanto não fazer nada
acabo de ser culpado de tudo

esperanças, cheguei
tarde demais como uma lágrima

de tanto fazer tudo
parecer perfeito
você pode ficar louco
ou para todos os efeitos
suspeito
de ser verbo sem sujeito

pense um pouco
beba bastante
depois me conte direito

que aconteça o contrário
custe o que custar
deseja
quem quer que seja
tem calendário de tristezas
celebrar...



Paulo Leminski

"Creio no Cinema, arte muda, filha da Imagem, elemento original de poesia e plástica infinitas, célula simples de duração efêmera e livremente multiplicável. Creio no Cinema, meio de expressão total em seu poder transmissor e sua capacidade de emoção, possuidor de uma forma própria que lhe é imanente e que, contendo todas as outras, nada lhes deve. Creio no Cinema puro, branco e preto, linguagem universal de alto valor sugestivo, rico na liberalidade e poder de evocação."




Vinicius de Moraes

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Parei a vida
quando parei
os passos
para ver os laços
no cabelo dela
debaixo da janela
e da flor amarela
que um pouco
singela
caía devagar.



Adélia Danielli
Fio de Vento



Um fio de vento,
Folhas pela noite.
Um rio de movimento.



Noite felina,
Várias solidões
Em um só leito.



Noite de alucinações
Em um só peito,
Febre e delírio.




Folhas em um rio,
Um rio de vento.
Noite escura de versos,
Versos ao vento.




Ronne Grey
Bicho da Noite



Tem horas que só quero um cigarro,
Tem horas que procuro amigos
Para conversar perambulando
Pelas noites.


Tem horas que não quero nada,
Nem a morte nem a vida,
Nem o corte nem a ferida.


Tem horas que me basta um café,
Tem horas que não sei quem sou.


Tem horas que procuro o silêncio,
Tem horas que fujo para os gritos da insônia.




Ronne Grey
Martela


Invades meu cerebelo,
E martelas, crepitando minha agonia...
Quando não te vejo minha cabeça vazia
Só martela, dilacera...



Minha alma que só anda...
Quando vê uma sombra se espanta.
Uma libélula sobrevoa em meus devaneios,
E meu peito abandonado só delira, delira...




Ronne Grey
Majestade Solitária



Uma beleza pálida
Iluminava a floresta,
Embriagava os grilos
Com uma melodia suave.



As árvores dançavam
Em perfeita sintonia
Com a brisa do mar.



Lua majestosa e solitária
Em um céu infinito,
Que encanta os seres noturnos.



A lua refletida em
Meu cálice de vinho
Consola-me dizendo:
Não estás só poeta.







Ronne Grey
Madeixa de Sândalo



Quero o sândalo dos teus cabelos
Junto à minha face pálida.




Quero que tu sejas cúmplice
De minhas loucas aventuras.



Não saia do meu jardim,
Flor da primavera,
Pois a tua ausência faz sofrer minha alma.



Vamos viver juntos o verde
De estações infinitas e envolventes.









Ronne Grey

terça-feira, 12 de agosto de 2008

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Revelação



Você Insiste em poesia
Pede versos
Implora...

Desista...
Isso não é mais comigo
É poema seu!...




Cefas Carvalho
Vida Obscura



A nadie le tocó tu espasmo obscuro,
¡Oh! humilde entre los más humildes seres,
Embriagado, loco de placeres,
El mundo para ti fue negro y duro.



Atravesaste, en el silencio oscuro,
La vida presa a trágicos deberes
Y llegaste al saber de altos saberes
Haciéndote más simple, al fin más puro.



Nadie te ha visto el sentimiento inquieto,
Doliente, oculto, aterrador, secreto,
Que el corazón te apuñaló en el mundo.



¡Mas yo que siempre te seguí los pasos
Sé qué cruz infernal prendió tus brazos
Y tu suspiro cómo fue profundo!


(Cruz e Souza)

domingo, 10 de agosto de 2008

um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegasse atrasado
andasse mais adiante

carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
uma coroa um milhão de dólares
ou coisa que os valha

ópios édens analgésicos
não me toquem nessa dor
ela é tudo que me sobra
sofrer, vai ser minha última obra

Paulo Leminski
Sepulta Brasil



Sepultando os mortos
Pela poesia escrava.
Em um país de cegos
É vão ser poeta.



Concorro com outros
Defuntos, a ignorância é fétida
Como toda vaidade.



Sinto nojo de minha pátria,
Não vejo razão na tolice.



Eles se alegram e rebolam
Engolindo o vômito da própria miséria.




Ronne Grey

sábado, 9 de agosto de 2008

Cabra de Peia



Aqui onde você levou bala
Vê se você se cala
Caboclo tem medo não.



No meio da praça
Tem uma mandala
E tua raça tem asa,
Tem unha e garra de gavião...



Mas, a tua vida é tão macabra
Da peia você é o cabra,
A luz da meia-noite
Trevas e escuridão...







Antônio Júnior
Mangue triste





Abandonado em uma rede
Jaz uma solidão,
Lágrimas salgadas diluídas no vinho
De um pescador.





A insônia do mangue
Começa no tragar de
Um ébrio pôr-do-sol.





Partistes e eu apenas
Suspirei atarantado,
Lembrando do arrebol
Que loucamente fostes...







Ronne Grey
Vinagre



A febre não passa,
A dor é tamanha,
Solidão na enfermidade
Parece convite da morte.



Entre as telhas vejo risos,
Parecem gargalhar de minha
Desgraça mórbida.



Logo agora que saboreava
Belos seios entre cálices
De vinho, me vejo afogado
No vinagre de minha tragédia.




Ronne Grey
Praia

Aceito brisa no meu cabelo
E água do mar, aceito o reflexo do
Espelho e a beleza de sonhar.


Quero areia nos meus pés
E a leveza na mente,
Quero uma sereia nos meus pés
Dizendo que amor é o que sente.


Barcos balançando, vento me envolvendo,
Som das águas cantando,
Ouvindo e escrevendo...


Quero melodia na flauta,
Pois no meu dia é o que falta.



Ronne Grey

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Libélula



Sinto tua pele
Em meu peito.
Apago as luzes para aguçar
Outros sentidos.



Cheirava-te, perdido...
No escuro encontrei teus
Lábios nos meus.



Teus seios exalam vinho,
Em teu fruto minha
Boca se perdeu...



Despida com minha flauta,
Tua pele branca e desnuda
Cantando pela floresta.








Ronne Grey
La Despedida


Ya estoy curado
Anestesiado
Ya me he olvidado de tí...
Hoy me despido
De tu ausencia
Ya estoy en paz...
Ya no te espero
Ya no te llamo
ya no me engaño
Hoy te he borrado
De mi paciencia
Hoy fui capaz...
Desde aquel día
En que te fuiste
yo no sabía
Que hacer de tí
Ya están domados
Mis sentimientos
Mejor así...
Hoy me he burlado
De la tristeza
Hoy me he librado
De tu recuerdo
ya no te extraño
Ya me he arrancado
Ya estoy en paz...
Ya estoy curado
Anestesiado
Ya me he olvidado
Te espero siempre mi amor
Cada hora, cada día
Cada minuto que yo viva...
Te espero siempre mi amor...
Te quiero... Siempre
Mi amor...
Se que un día... volverás...
No me olvido y te quiero...





(Manu Chao)
Vinho


Se o queres seco
para molhar a garganta
eu o quero suave
para reinventar
essa chama
se o queres branco
para velar a virgem
eu o quero
vermelho
do porto
para aportar
as paixões
que me dividem.









Marize Castro
Ella


Ella se canso de tirar la toalla
se va quitando poco a poco telarañas
no ha dormido esta noche pero no esta cansada
no mira ningún espejo pero se siente ton guapa
Hoy ella sa puesto color en las pestañas
hoy le gusta su sonrisa, no se siente una extraña
hoy sueña lo que quiere sin preocuparse por nada
hoy es una mujé que se da cuenta de su alma
Hoy vas a descubrir que el mundo es solo para ti
que nadie puede hacerte daño, nadie puede hacerte daño
hoy vas a comprender
que el miedo se puede romper con un solo portazo.
hoy vas a hacer reir
porque tus ojos se han cansado de ser llanto, de ser llanto…
hoy vas a conseguir
reirte hasta de ti y ver que lo has logrado que…
Hoy vas a ser la mujé
que te dé la gana de ser
hoy te vas a querer
como nadie ta sabio queré
hoy vas a mirar pa’lante
que pa atrás ya te dolió bastante
una mujé valiente, una mujé sonriente
mira como pasa
Hoy nasió la mujé perfecta que esperaban
ha roto sin pudore las reglas marcadas
hoy ha calzado tacone para hacer sonar sus pasos
hoy sabe que su vida nunca mas será un fracaso
Hoy vas a descubrir que el mundo es solo para ti
que nadie puede hacerte daño, nadie puede hacerte daño
hoy vas conquistar el cielo
sin mirar lo alto que queda del suelo
hoy vas a ser feliz
aunque el invierno sea frio y sea largo, y sea largo…
hoy vas a conseguir
reirte hasta de ti y ver que lo has logrado…
Hoy vas a descubrir que el mundo es solo para ti
que nadie puede hacerte daño, nadie puede hacerte daño
hoy vas a comprender
que el miedo se puede romper con un solo portazo.
hoy vas a hacer reir
porque tus ojos se han cansado de ser llanto, de ser llanto…
hoy vas a conseguir
reirte hasta de ti y ver que lo has logrado ohhhh

(Bebe).
Solo



Quando morri nem sequer os vermes
Visitaram meu túmulo,
Fiquei solitário como sempre e para sempre.



Temo agora que esteja condenado
Eternamente à solidão.
Minhas memórias andam esquecidas.



Lembro daquele beijo,
Pena que meus lábios permaneceram
Intactos e frios como a morte.



Ainda sinto o aroma das flores
Que não toquei,
A vida era vida,
Eu é que a tornei uma morte.



Doravante amarga e precoce
A ebriedade, agora é minha companheira
Nas margens de um rio qualquer.








Ronne Grey

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Canal 33

Todas as televisões ligadas
Todas as falas mudas
É assim que a vida passa
Imersa na sala de estar

Te vira e passa
Pensar e caçar
Te vira e passa
Pensar e caçar


Todas as falas fardadas
Todas as mentes sujas
É assim que a vida passa
Imersa na venda e no ar


Te vira e passa

Pensar e caçar

Te vira e passa

Pensar e caçar


Te vira e passa

Te vira e passa

Te vira e passa


Passado, cansado
Futuro selado
Passado, cansado
Futuro selado.


Maria Eunice Boreal
Um país de não-leitores


Em 2002, um quarto da população brasileira com mais de 10 anos de idade tinha menos de quatro anos de estudos completos: 32 milhões de analfabetos funcionais. Estatisticamente, o brasileiro não estuda, e quem não estuda não lê


Em 1952, a editora americana Doubleday criou o selo Anchor Books, dedicado a lançar obras de ficção literária em formato de bolso. Na autobiografia Book business: publishing past present and future [1], Jason Epstein, editor da Doubleday e responsável pelo lançamento do selo, explica o raciocínio por trás da iniciativa: depois da Segunda Guerra, a porcentagem de americanos com estudo superior aumentou sensivelmente graças à G. I. Bill, uma lei de financiamento dos estudos de veteranos de guerra; muitos desses novos estudantes não teriam dinheiro para comprar os livros que precisariam ler para a faculdade ou que gostariam de ler após os estudos; era preciso, portanto, disponibilizar esses livros num formato mais barato. Nascia o quality paperback.

Hoje os paperbacks são onipresentes nas prateleiras de livrarias americanas e inglesas, e algumas editoras começam a lançar os livros em paperback (capa mole) e hardcover (capa dura) ao mesmo tempo, abdicando do tradicional período de espera entre o lançamento da versão "cara" e o da versão "barata". Recentemente, a Picador, editora inglesa do grupo Macmillan, anunciou que a partir de 2008 a maioria dos seus lançamentos será feita diretamente em capa mole, com uma tiragem limitada em capa dura.

O sucesso dos livros em formato mais barato e o momento da sua disseminação nos Estados Unidos ensinam uma lição econômica simples: livros se tornam mais baratos quando há mais leitores. Não acredito que exista um exemplo provando o inverso, que mais leitores surjam quando os livros são mais baratos. E não é difícil entender por quê. Para uma pessoa que não gosta de funk, que diferença faz se o ingresso para um baile funk custa um, dez ou cem reais? O raciocínio é o mesmo para a literatura.

Revolução educacional
Verdade que o desinteresse absoluto é um caso extremo. Eu, por exemplo, não me interesso por ópera, mas se o ingresso for suficientemente barato posso muito bem experimentar uma ópera um dia desses. Nesse sentido, é um bom sinal que as editoras brasileiras lancem cada vez mais coleções de livros de bolso: o leitor eventual pode ser seduzido com mais facilidade por um livro de dez ou vinte reais do que por um de cinqüenta. Mas o efeito dessa diminuição de preços é necessariamente limitado: assim como eu dificilmente vou me tornar um fã incondicional de ópera depois de assistir a uma montagem de A flauta mágica, a disponibilidade de livros mais baratos não vai transformar os não-leitores em traças.

E o Brasil é um país de não-leitores. Claro: somos um país de não-estudantes. Em 2002, um quarto da população brasileira com mais de 10 anos de idade tinha menos de quatro anos de estudos completos: 32 milhões de analfabetos funcionais. No mesmo ano, as pessoas de mais de 10 anos de idade morando no Brasil tinham, em média, 6,2 anos de estudo [2]. Estatisticamente, o brasileiro não estuda, e quem não estuda não lê. Não me leve a mal: sou totalmente a favor de livros mais baratos nas nossas prateleiras e de iniciativas como bibliotecas nos metrôs ou máquinas para vender livros. Todo esforço ajuda, e cada um faz o que pode. Mas não vai ser assim que vamos nos tornar um país de leitores. O que realmente precisamos fazer é a revolução educacional que aconteceu nos Estados Unidos e na Europa cinqüenta anos atrás, e em muitos países asiáticos pouco depois disso. É aumentando o público potencial da literatura que o público real vai aumentar.

Educação é importante por tantos motivos que destacar seu papel para aumentar o público leitor pode parecer um pouco raso. É pela educação que podemos conseguir reduzir a violência, dar força ao crescimento econômico e tornar o Brasil uma democracia mais decente. Se as pessoas vão ler ou não é um ponto relativamente supérfluo.

Mas se quem quer que a educação seja uma prioridade no Brasil não precisa usar o argumento da leitura, quem quer que a literatura brasileira progrida não pode deixar de falar de educação. Ter mais leitores é só o começo. Mais leitores quer dizer mais diversidade de gosto e mais gente disposta a comprar livros, o que leva as editoras a publicar livros mais diversos e investir mais nos livros publicados, porque a recompensa – o lucro da literatura – seria maior. Se as editoras têm mais lucro, elas podem pagar melhor seus autores, o que quer dizer que mais autores podem viver do que escrevem e consagrar mais tempo à produção literária. E mais tempo leva a mais qualidade. Se queremos um mercado literário grande e vibrante, se queremos grandes autores produzindo grandes obras, se queremos que a literatura tenha um espaço importante no cotidiano do nosso país, precisamos de educação. Todas as outras iniciativas, por louváveis que sejam, são paliativas.







Lucas Murtinho

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Terra dos sonhos



O teu sorriso devorava encantadoramente os meus pensamentos, contrastando e, por isso, enaltecendo, o som melancólico da música Send in the clowns, na voz inconfundível de Carmem MacRae, enquanto eu dirigia embevecida, em direção ao nosso apartamento. Será esse sorriso que ele me dará como grata recompensa quando eu lhe mostrar a grande surpresa da noite: As nossas passagens para a Terra dos Sonhos, Paris! A nossa primeira viagem depois de dois anos de casados. Lá, na terra mágica, ele me fará um filho, Vinícius, ou uma filha, Diadorim... Pensei, deixando-me embriagar, sem rédeas, pelo encanto da tua bela imagem que me guiava. Ah, o teu sorriso... A minha ligação com o divino. Nele, se acham contidas todas as leis do amor, todo o poder dos sentidos... Ele estava tão presente, tão luminoso em meus pensamentos, que não enxerguei o carro a minha frente... Escuro.
Perdi os movimentos do corpo. Deitada numa cama, em tempo integral, passei a viver sob os cuidados de terceiros. Nos três primeiros meses, chorávamos juntos, todas as noites... Um dia, acordei com um suave beijo na testa. Abri os olhos devagar e vi o teu rosto. As mesmas feições, os mesmos gestos, o mesmo nome... Mas não era você! Procurei algo humano em teu olhar, piedade talvez, mas foi um grande vazio que encontrei. Depois de um longo e pesado silêncio, você chorou... E o teu choro confirmou o que eu já sabia... Você lançou um olhar vago pelos arredores do quarto, deu-me as costas e partiu. Tentei gritar, mas a voz me escapava. Incapaz de realizar o menor gesto de espanto e de dor, paralisada, enrijecida, recebi a tua ingratidão e o escárnio do destino. O vazio que você deixou encheu o quarto e tornou-se o meu universo.
Um ano se passou. O meu coração transformou a saudade, o horror do nada, numa aliada esperança. Fazendo uso das sete cores, dá vida ao passado que chega até a mim em forma de sonhos... Sonhos de amor, sonhos de loucura... Neles, encontro o teu sorriso, hoje, o meu escudo contra a realidade... Estamos em Paris... Todas as noites fazemos um filho... E o fim transcende o nada e torna-se começo.
Sei da existência de amores nobres. Eles correm pela vida. Raramente coincidem. Vivem uma série de enganos e morrem com o seu próprio veneno! Estou morta. O meu coração, louco, rejeita a minha condição. Fiel ao seu sentimento, tentando tornar perfeito o imperfeito, alimenta-se de sonhos, das lembranças do gosto das maçãs e, com grande pressa, continua batendo...




Cláudia Magalhães