segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Obras imaginárias





Por quê realizar uma obra se é melhor e mais prazeroso apenas imaginá-la? Lembrei desta pergunta feita a si mesmo pelo pintor Giotto, no filme Decameron, do mestre italiano Pasolini. Giotto, vivido pelo próprio Pasolini, encerra o filme com essa frase de efeito, visualizando mentalmente a obra que não pintara. Por muitas vezes me deleitei apenas ao imaginar um conto, uma crônica, um romance, sem jamais ter escrito deles uma mísera linha. Ah, a obra literária existente apenas dentro de mim, é imensa, quase uma Biblioteca de Babel. E por citar Borges, no conto O milagre secreto (do livro Ficções), o mestre argentino criou um personagem, Jaromir, que, diante do pelotão de fuzilamento e com a bala em sua direção, percebe que dispõe de um milésimo de segundo para terminar, em sua mente, o romance que começara a escrever. Mentalmente, constrói frases e parágrafos, corrige orações, inventa personagens, retifica a ortografia, até que termina de, digamos, imaginar, seu livro, colocando-lhe o ponto final. A bala chega ao seu destino e Jaromir morre. Acredito até que imaginar um texto é melhor que muito do que colocamos no papel, que não corresponde ao que sentimentos ou que não passam de palavras, nada mais que palavras. Qualquer dia desses vou fazer uma lista das minhas obras imaginadas e jamais escritas. Bem, se eu escrever o nome delas em uma folha de papel, já seria um passo para que elas ganhem vida. Pensando bem, vou deixar as minhas obras imaginárias em um recôndito da minha mente...




Cefas Carvalho

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