segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Obras imaginárias





Por quê realizar uma obra se é melhor e mais prazeroso apenas imaginá-la? Lembrei desta pergunta feita a si mesmo pelo pintor Giotto, no filme Decameron, do mestre italiano Pasolini. Giotto, vivido pelo próprio Pasolini, encerra o filme com essa frase de efeito, visualizando mentalmente a obra que não pintara. Por muitas vezes me deleitei apenas ao imaginar um conto, uma crônica, um romance, sem jamais ter escrito deles uma mísera linha. Ah, a obra literária existente apenas dentro de mim, é imensa, quase uma Biblioteca de Babel. E por citar Borges, no conto O milagre secreto (do livro Ficções), o mestre argentino criou um personagem, Jaromir, que, diante do pelotão de fuzilamento e com a bala em sua direção, percebe que dispõe de um milésimo de segundo para terminar, em sua mente, o romance que começara a escrever. Mentalmente, constrói frases e parágrafos, corrige orações, inventa personagens, retifica a ortografia, até que termina de, digamos, imaginar, seu livro, colocando-lhe o ponto final. A bala chega ao seu destino e Jaromir morre. Acredito até que imaginar um texto é melhor que muito do que colocamos no papel, que não corresponde ao que sentimentos ou que não passam de palavras, nada mais que palavras. Qualquer dia desses vou fazer uma lista das minhas obras imaginadas e jamais escritas. Bem, se eu escrever o nome delas em uma folha de papel, já seria um passo para que elas ganhem vida. Pensando bem, vou deixar as minhas obras imaginárias em um recôndito da minha mente...




Cefas Carvalho

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

domingo, 12 de outubro de 2008

23 de Janeiro



Acordava cantando,
Dormia com as janelas abertas,
À noite sua alma
Perambulava pela floresta.



Noites fumegantes
Onde sentava nos barcos
Preguiçosos do mangue.



O som do mar lhe seduzia,
Semelhante um canto de flauta
Que embriaga os poetas.



Ele sempre dizia:
Ingratidão dormir,
Enquanto se faz
Bela lua cheia.








Ronne Grey

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

POEMA CON LA TONADA ÚLTIMA

¿Que adónde voy con esas caras tristes
y un borbotón de venas heridas en mi frente?

Voy a despedir rosas al mar,
a deshacerme en olas más altas que los pájaros,
a quitarme caminos que ya andaban en mi corazón como raíces...

Voy a perder estrellas,
y rocíos,
y riachuelitos breves donde amé la agonía que arruinó
mis montañas
y un rumor de palomas
especial,
y palabras...

Voy a quedarme sola,
sin canciones, ni piel,
como un túnel por dentro, donde el mismo silencio
se enloquece y se mata.




Julia de Burgos

domingo, 5 de outubro de 2008

•" Segure navilouca •
'Sou somente uma alma em tentação .
Em rota de colisão .
Deslocada, estranha e aqui presente.' ♫
[ah! esse refrãozinho é tão meu!]

Quanto a ir ou vir, ficar ou partir, casar ou comprar a bendita bicicleta, aconselho:
'Pensa não, deixa assim, que a vida pensa...' [sabio Lenine]

A vida por si só trata de direcionar dúvidas à caminhos matemáticos, exatos, sem desvios ou saídas; e normalmente são esses os melhores caminhos a se seguir.
Lutei tempos contra a força da minha vida, me frustrei certas vezes para hoje saber que intuição é algo que deve ser levado a sério e que meu destino cuida de mim como ninguém.
Como eu já havia dito; TUDO o que se sucede nessa minha vida é absolutamente inevitável."

sábado, 4 de outubro de 2008

sexta-feira, 3 de outubro de 2008


"Sim, gostava de escrever! Amanhã escreverei e direi tudo o que não pude dizer hoje!

Sempre que entras por aquela porta, eu tremo...tremo de temor, tremo por ti, tremo por nós. Queria poder encontrar-te novamente e mentir, mentir como sempre mentimos por sermos daltónicos no sentimento, na razão e na emoção, porque o que foi sentido já não faz sentido...a forma é irrelevante... não consigo fechar as gavetas... estão cheias, estão cheias de nós! Foi a ti e só por mim que em momentos de cegueira te procurei....
Desculpa... mas como a vida acontece e os caminhos se cruzam, abracei um tumulto e segredei-lhe ao ouvido
"


"Tenho uma fome, tenho amor, estou pronto para a guerra. Que os fogos comecem: estou na arena. Mas, pra isso, tenho que mendigar um almoço na casa de um amigo & tentar gerir meus dias com apenas o que me foi legado: meu corpo, minha inteligência, minha poesia maldita. (...)Está na hora de polir as garras, limpar o sangue & beijar o cio estrelado da noite. Tenho cópulas extremas em minhas veias, animais gritando, dançarinos pegando fogo num ritual noturno, perfume. Novos vinhos & novas revoluções. Uma magia pronta para um crime perfeito. Um grito, animais extintos, maldade, sonhos. Tinha que espatifar isso num congresso de corpos numa casa em ruínas, ou em duas. Tive que visitar minhas antigas cópulas para banhar as novas em ouros escondidos nos tesouros de matos verdes com vestígios de merda & pequenas pulgas. Tive que deitar num pasto de fezes & olhar o céu, enquanto era estimulado pela boca de uma amante pronta para a entrega definitiva. Sua boca percorrendo os pergaminhos luminosos de meu corpo quente, soprando como um verão doce. Nossas bocas dançando em movimentos lentos sob a luz frágil da lua, nosso poste natural, nossa canção de noite. I’m singing in the rain... correndo, pulando sobre destroços nas ladeiras, buscando um casulo de rochas antigas para nossa nudez mágica, nosso grito sonoro de sedução entre as flores".
"Essas putas consumistas do cansaço diário. Aquelas que não deixam cerrar os olhos. As que esporram adrenalina, essa vitamina que nos faz mexer. As cabras fascistas que tocam no céu no nosso nervo mais sensível e mantém a luz acesa. Tudo fica claro quando nos implode a sensação de estenuamento seguido do orgasmo múltiplo que nos mantém a cabeça a rodar durante toda a noite. Aquelas idiotas capitalistas que nos roubam o brio sobre o breu. Nada mais que tirar o nosso rosto descansado e espetar um par de olheiras sob os olhos e uma resma de rugas aqui e ali. Quarto escuro, cama feita, almofada minha. Tudo para um perfeito sonho. Tu a meu lado com a sonolenta respiração ofegante. Abraço-te na esperança de vencer aquelas incontornáveis putas. Nada. Continuo deitada com os sentidos afinados no que não se passa. O sol nasce, o orvalho seca, há vida de novo. Assim encaro mais um dia".

quarta-feira, 1 de outubro de 2008