quarta-feira, 9 de julho de 2008

Fuzilo




Eu fuzilo corações, beijos e perdões
Fuzilo o chão mal posto
Fuzilo quem inadvertidamente me persegue
Fuzilo o sol que me bronzeia
Fuzilo a hóstia da igreja que
Implacavelmente promove forró e
Cachaça
Fuzilo cabeças
Fuzilo a mim mesmo, também
Quando inadvertidamente me correspondo
Com vibrações antagônicas, arruinando o
Meu coração já tão roto
Fuzilo, também, feiras, sextas e prenúncios de verões
Fuzilo quem me apunhala pela frente
Fuzilo vizinho, parentes e incógnitas
Fuzilo espelhos
Fuzilo o dia, a hora e os segundos da minha
Vida largada
Largada feito um fuzil
Enferrujado
Fuzilo também avenidas desertas
Fuzilo padres, advogados e dentistas
Fuzilo jornais, chocolates e serpentes
Fuzilo o chão indócil que me abriga
Fuzilo anzóis, anéis e a cartomante que me benzeu
Fuzilo o til, tremas e pretéritos ácidos
Corroendo como ônibus de fim de linha.




Carlos Gurgel

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