terça-feira, 15 de julho de 2008

O pior do Brasil é o brasileiro


Cefas Carvalho

Toda vez que quero me convencer que o Brasil tem salvação e que podemos chegar a patamares razoáveis de cidadania e sendo coletivo sou brindado com a realidade concreta e o como diria John Lennon, o sonho acaba. Não estou sequer falando de tragédias como a morte do menino João Hélio, no Rio de Janeiro, pavorosa por si só e capaz de gerar uma espécie de indignação coletiva que pode ocasionar mudanças. O problema é que não dá para mudarmos no macro, se não mudarmos no micro. Um país com cidadania, respeito, se constrói da junção entre a capacidade e o bom senso do poder público e do senso de coletividade da população. Tenho centenas de queixas quanto ao primeiro item, e poderia gastar laudas e mais laudas criticando Lula, Wilma de Faria e Carlos Eduardo. Mas, sejamos francos, se a população não tiver o mínimo respeito à coletividade, de nada adianta que os administradores públicos beiram a perfeição. Este tipo de raciocínio me vem a tona toda vez que participo de festas e eventos populares realizados em área aberta, em especial àqueles promovidos no Centro de Natal e na Praia do Meio. Nada contra os eventos em si. O problema é quanto ao uso dos banheiros químicos, aqueles boxes azuis portáteis instalados em lugares estratégicos. É certo que eles não são o máximo do conforto, mas certamente consistem em um benefício para a população, pois que evita constrangimentos. Mas, devo dizer que em Natal jamais entrei em um banheiro químico em condições normais de uso. Não que eles venham com defeito de fábrica. O problema está justamente nos seus usuários. Com meia hora instalados, boa parte dos banheiros químicos, principalmente os masculinos, já não tem condições de uso. A criatividade dos vândalos não tem limites. Arrancar a fechadura dos banheiros é um clichê, quase uma regra. Outros preferem ignorar o vaso sanitário e urinar no chão e nas paredes do banheiro. Há quem faça coisa pior no chão a nas paredes... Já flagrei uma camisa cuidadosamente enrolada e jogada dentro do vaso, o que impedia o uso normal do mesmo. Um amigo meu garantiu que encontrou um par de chinelos dentro de um vaso sanitário. No recente carnaval multicultural do centro, um banheiro químico não tinha mais assento (o que leva alguém a arrancar o assento sanitário de um banheiro público em pleno carnaval?...). Embora me considere um cidadão pacato e respeitador da lei e da ordem consigo até entender ideologicamente a desordem enquanto ideologia, nos moldes do anarquismo ou de Jim Morisson. Mas, é difícil entender um cidadão que vai pular um carnaval e espalha sua própria merda nas paredes de um banheiro químico instalado para ele, para sua namorada (se é que este tipo de gente a tem) e sua família. Definitivamente, enquanto este tipo de comportamento, mais que anti-social, mais que vândalo, prioritariamente auto-prejudicial, existir no Brasil, o país não caminhará para a frente. Que o leitor desculpe o exagero da comparação, mas, que entenda o princípio do raciocínio: o desrespeito do cidadão que joga uma camisa no vaso sanitário para com o próximo, é o mesmo desrespeito que os marginais cariocas tiveram com o menino João Hélio. O efeito pode ser diferente, mas a cultura do descaso com o coletivo é a mesma. E é perigosa. Confesso que tenho medo de quem danifica banheiros químicos. Sabe-se lá o que este cidadão (?) pode fazer do futuro. Talvez danificar carros, agências bancárias, casas, vidas humanas. Cascudo que me perdoe, mas penso que o pior do Brasil é mesmo o brasileiro.

Um comentário:

Cláudia Magalhães disse...

Amigo, esse seu blog é muito inspirador... Muito bom esse texto de Cefas! Parabéns pela tua sensibilidade e pelo teu talento encantador! Amei a tua poesia "Resíduos". Bela! Beijos.